Wednesday, August 30, 2006

ERÓTICO




Distorsion, 1933 - André Kertész

O que é uma fotografia erótica? Qual o limite entre o erótico e o pornográfico? Segundo Houaiss, erótico é o que provoca amor ou desejo sexual, e pornográfico é o que demonstra, descreve ou evoca luxúria ou libidinagem.
Nas artes visuais o erotismo sempre esteve presente como tema, e na fotografia, desde a sua descoberta no século XIX, ocorreu o mesmo, alguns autores fotográficos como Henry Voland, Robert Demachy, Edward J. Steichen e outros trouxeram o tema para o registro fotográfico.
Barthes defini a fotografia erótica como aquela em que o campo cego sai para fora do enquadramento, no qual a nossa imaginação vai além da imagem fixa. O punctum é, portanto, uma espécie de extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver: não somente para “o resto” da nudez, não somente para o fantasma de uma prática, mas para a excelência absoluta de um ser, alma e corpo intrincados. A pornografia representa, costumeiramente, o sexo, faz dele um objeto imóvel (um fetiche), incensado como um deus que não sai de seu nicho; para mim, não há punctum algum na imagem pornográfica; quando muito ela me diverte (e ainda: o tédio surge rapidamente).

Calla Lily,1988 - Mapplethorpe


Ajitto, 1981 - Mapplethorpe

No século XX e XXI a imagem erótica está presente nos trabalhos de vários fotógrafos contemporâneos entre eles, Robert Mapplethorpe. O americano morreu na década de noventa vítima de AIDS, e se tornou um ícone por suas imagens eróticas de nus masculinos. Na fotografia Ajitto - 1981, feita por ele, a posição fetal do negro sentado naquele minúsculo banquinho, dá a sensação de desprotegido, mas a textura da sua pele, sua estética, as formas apresentadas na imagem, como o triângulo formado pelas pernas, vão além do extracampo. Quando fecha o enquadramento em um Copo-de-leite (Calla Lily, 1998) e incide a luz centralizando o haste da flor, esta demonstra um poder fálico que, para mim, são imagens eróticas.
Vários são os autores fotográficos que apresentam este punctum em seu trabalho, um deles do qual admiro muito é o Man Ray, quando este fotografou Juliet (sua namorada) e Margareth, (Juliet and Margareth – 1948), as duas modelos posaram nuas usando apenas máscaras cobrindo seus rostos, elas escondem suas identidades e dão um ar de mistério na imagem.



Juliet and Margareth, 1948 - Man Ray

Podemos citar, o fotógrafo francês Henri Cartier Bresson, mestre do ‘Instante Decisivo’, mais conhecido como fotógrafo de rua apresenta uma acuidade em seus ensaios fotográficos. Pouco divulgados, Bresson registrou também o erótico na imagem feminina, como podemos ver as duas modelos posando nuas para uma cena de desenho, os dois corpos em cima da cama jogados insinuam além do que nosso olhar vê, revelando ao receptor um campo cego da imagem.


Pause de deux modele pendant une séance de dessin, Paris, 1989 - Henri Cartier Bresson

André Kertész, em seu ensaio ‘Distorção’ (as primeiras, acima) de 1933, revela um estranhamento ao olharmos o nu feminino amórfico, ao mesmo tempo que nos revela uma delicadeza do corpo e alma feminina.
Araki, um dos mais célebres fotógrafos japoneses, apresenta nesta imagem uma gueixa com seu traje tradicional, o quimono e, ao comer um pedaço de melancia, mostra a sutileza e malícia no seu gesto, que contrapõe o rosto angelical (da modelo) com o vermelho erótico da fruta.Poderíamos ficar horas mostrando imagens eróticas destes representantes da fotografia, porém hoje vou parar por aqui.


Araki

Veja mais artigos e Fotografias em:

fotografiacontemporanea.com.br - Site oficial.


por Célia Mello

Tuesday, August 22, 2006

Fenomenologia sartreana...

Para acompanhar o imaginário de Marco Bin, em homenagem a Jean Paul Sartre, nada melhor do que uma imagem do fotógrafo Jeanloup Sieff em um Café parisiense, e do fotógrafo Robert Doisneau do qual vivenciou e registrou, como ninguém, vários Cafés da cidade de Paris e St Denis.


Robert Doisneau: Terrase de café, rue Boulard, Paris 14º - 1966


Robert Doisneau: Café a la tartine, porte de la Vilette, Paris 19º - 1953

Robert Doisneau: Livreur de sciure ao comptoir du café Allain, rue de Seine, Paris 6º - 1953



Uma breve abordagem da fenomenologia sartreana
por Marco Bin


“A fenomenologia veio ensinar-nos que os estados são objetos, que um sentimento enquanto tal (um amor ou um ódio) é um objeto transcendente e não pode contrair-se na interioridade de uma consciência”.
J.P.Sartre


Para falar de Jean-Paul Sartre e da relevância de sua filosofia existencial ainda em nossos dias, não necessito abandonar este Café em que me encontro, pleno de pessoas que conversam, comem e aguardam o próximo momento. Diante de mim, uma jovem acaba de receber seu café; pega a colherinha e mexe suavemente o açúcar em seu café, sem pressa. Sobre o muxoxo das vozes abafadas, sobressai a música, um saxofone que me envolve, cujas intervenções alternam longos solos com breves e cortantes fraseados e, longe de se portar como um simples musak, aprofunda o sentimento de prazer em minha relação com o lugar.
Não há nenhum inconveniente na demora do garçom, ao contrário, isso me permite acompanhar o movimento, deleitando-me com minhas mediações subjetivas. Posso me ater ao esforço angustiante do garçom em atender as pessoas, ou aos ocupantes desta ou daquela mesa, uns animados com a conversa, outros concentrados bebericando ou comendo e outros solitários que lêem seus jornais e revistas, ou como a jovem a minha frente, que apenas mexe o açúcar de seu café. No grande cenário em movimento a minha volta, o spectrum barthiano, atenho-me a este ponto incisivo, o fulcro da animação total, o punctum que me atrai e me mobiliza. Desde o momento em que a envolvo em minha apreciação, ela desperta em mim novas questões: qual sua idade?, o que pensa enquanto mexe o café da xícara?, o que vai fazer em seguida? A jovem não se abala, cessa o movimento com a colherinha, abandona-a sobre o pires e leva a xícara à boca, para o primeiro gole de café. Observo essa sucessão de gestos não como uma seqüência de sensações, mas como qualidades sensíveis que emanam da jovem e são captadas pela minha intenção, pelo meu desejo em acompanhar seus gestos contínuos e singelos. É pela minha consciência intencional que a percebo como um todo, diante de mim. Eis a consciência formulada por Sartre, uma consciência que se projeta para o mundo, não havendo nada nela a não ser a intenção.
E uma vez sintonizado com a presença da jovem, passo a refletir sobre suas atitudes, sobre sua beleza, sobre seu possível jeito de ser... Ela se torna para mim um objeto, que avalio por suas expressões visíveis, e até onde puder manter essa “relação” silenciosa e distante, a preservarei como um objeto. Se ela se levantar e partir, perderei o contato presencial, mas me restarão as evidências de sua presença e os traços de nossa “relação”, daí porque não guardarei uma imagem da jovem – a consciência não é um receptáculo onde se guardam coisas – mas retomarei uma consciência imaginante da jovem.
Para Sartre, a consciência é intencional, suas experiências visam um sentido, um significado. E este significado se coloca para além do momento. Assim, minha vivência no Café me remete inevitavelmente a uma ação que se desdobrará rumo ao futuro. Opto por uma escolha e me comprometo com ela: posso me aproximar da jovem para uma conversa, como também posso levantar-me e ir ao cinema, ou posso continuar à espera do garçom, observando a agitação no Café. Tenho a liberdade de optar pelo projeto mais conveniente e assumi-lo, realizando-o. De qualquer forma, estarei me engajando em uma situação, estabelecendo uma relação com o mundo em que vivo.
Haverá sempre um recomeço: ao desprender-me de meu lugar no Café, estarei pronto para prosseguir minha relação com o outro, com o mundo em que vivo. Ao abandonar minhas elucubrações subjetivas, a jovem diante de mim deixa de fazer parte de meu projeto, para tornar-se uma referência em meu passado. Como ser contingente, lançado no mundo, vivencio o presente voltando-me para a próxima ação no futuro. A existência que sufoca Roquentin em A Náusea é a angústia da existência, e contra ela não há subterfúgios, sob o risco de se agir de má-fé. A angústia da existência me evidencia que estou sozinho e livre, me definindo a partir de meus atos e de minhas escolhas.
As experiências ordinárias vivenciadas nos Cafés e nos lugares públicos forneceram a Sartre muitos dos ingredientes para a construção de sua obra. Ao situar minha breve abordagem em um Café, nada mais desejei do que reverenciar a memória deste importante filósofo e escritor de nosso tempo.
Robert Doisneau: Café “Aux quatre Sergents de la Rochelle”, rue Mouffertard, Paris 5º - 1950



Robert Doisneau: (Baiser) place de l'Hotel de Ville, Paris 4º - 1950

Robert Doisneau: La stricte intimité, rue Marcelin Berthelot, Montrouge - 1945
Jeanloup Sieff: Café de Flore tôt le matin, 1975

Friday, August 18, 2006

Helmut Newton


Auto-retrato com a esposa e a modelo, 1981


Ele foi o mestre de David Lachapelle e, como antecessor, foi tão ousado no seu trabalho fotográfico de moda como fotografando mulheres.

In our ktchen, Rue Aubriot, Paris, 1972


Helmut Newton nasceu na Alemanha em 1920, um dos mais célebres fotógrafos de Moda do século passado, trabalhou para as principais revistas dos Estados Unidos como da Europa provocando e insinuando através do seu olhar o universo feminino.
Em 2003, foi convidado a criar o primeiro calendário Arte Swarovski, da família Swarovski cristal, o objetivo do calendário é que cada ano um grande fotógrafo produza uma versão pessoal do calendário. Carina Swarovski (vice-presidente) convidou Newton pela sua criatividade em capturar as emoções, como o cristal Swarovski cria através da refração da luz um arco-íris que deixa emergir a sedução do cristal. Este teve carta branca para criar o calendário escolhendo as modelos, o ambiente e o local: a cidade de Monte Carlo (fotos abaixo).


Calendário Swaroski, junho


Calendário Swarovski, novembro



Calendário Swaroski, fevereiro, "A máscara"

Helmut Newton trabalhou para os principais estilistas de moda entre eles: Yves Saint Laurent. Como o próprio Yves Saint Laurent em suas criações, Newton deixa um registro atemporal, sublime e provocante. Pelas suas lentes ele reinterpreta uma obra de arte criada por YSL.


Helmut Newton fotografa uma criação de Yves Saint Laurent, publicado na Vogue Paris, 1981; e diz "Yves Saint Laurent me inspirou as mais belas fotos de moda"


Nadja por Helmut Newton Anna Molinari Vogue E.U.A, setembro 1994

Morre em 2004 em um acidente em Los Angeles, mas como herança nos deixa um trabalho em que seus cliques têm um poder de sedução seja nos nus femininos ou na fotografia de moda, pois este traduziu o corpo feminino como uma obra de arte, algo inspirador que apenas poucos têm o prazer de desvendar.


Por: Célia Mello

Thursday, August 10, 2006

Poderoso Toscani


O fotógrafo teve um grande desafio quando foi convidado pelo prefeito de Corleone (pequena cidade italiana ligada à máfia) a mudar a imagem da sua cidade. Então ele decidiu fazer um catálogo de moda, fez um casting de polaroides nas ruas de Corleone, dentre as várias pessoas fotografadas escolheu somente os jovens com menos de 20 anos. Estes posaram para suas lentes nas ruas em frente às fachadas das casas ou em frente aos muros danificados da cidade e deram seus depoimentos contando como é viver em Corleone.


Por: Célia Mello

United Colors of Oliviero Toscani



woman breastf


olho de um dos maiores fotógrafos - auto-retrato Toscani



Atendendo a pedidos, resolvi postar sobre o fotógrafo polêmico, que se tornou mundialmente conhecido pelo seu trabalho agressivo, enfatizando a marca Bennetton pelo mundo. Tudo começou em 1984, quando Oliviero Toscani foi convidado, por Luciano Benetton, a trabalhar nas campanhas publicitárias da companhia e, a partir de então, acabou por inovar o cenário publicitário, não apresentando o produto em si, mas trazendo questões sociais e atuais para as campanhas. Seu trabalho é uma mistura de foto-publicidade com foto-jornalismo.
Toscani traz um estilo próprio nas campanhas que causam um sentimento de choque e estranhamento em quem as vê. As imagens são como um espelho da nossa sociedade perversa, e o único colorido está nas roupas da campanha junto ao logo verde escrito United Colors of Benetton.

A revista COLORS (foto à acima - capa da revista) surgiu em 1991, distribuída em 80 países e aborda temas da atualidade ou fenômenos da sociedade. Em alguns números não há uma única palavra apenas fotografias. Como diz Toscani “...a fotografia é uma língua moderna, ela representa uma maneira atual de se comunicar.” Não há quem não concorde com ele! É só sair de casa e tentar contar quantas fotos/imagens encontram-se expostas em outdoors, lojas, padarias, restaurantes, botecos, carros, escolas, etc. Abre-se um jornal ou uma revista e não existe uma página que não contenha, ao menos, uma fotografia (em tempos atrás, os jornais eram compostos 90% por textos). A fotografia surgida no século XIX, altera todo o contexto sócio, cultural e econômico do mundo, eis que surge uma nova forma de manifestação de idéias e pensamentos, de denúncias e expressões artísticas...o mundo baseado no olhar. Não é difícil perceber que hoje já existe uma nova espécie de homem, aquele que opera com as imagens, o chamado “Homo Videns” ...Mas isso já é outra história...


Por: Célia Mello

Sunday, August 06, 2006

Hotel Lachapelle


Mark Wahlberg: Padded Cell, NewYork, 1997.



Say it with Diamonds, Amanda Lepore, New York, VISIONAIRE, 1997.

Wednesday, August 02, 2006

"Hotel Lachapelle"...

... é um livro surpreendente de fotografias por David Lachapelle que teve vários elogios da imprensa americana: “David Lachapelle é o Fellini da fotografia” - New York magazine. “It was only a matter of time before the talented Lachapelle got himself in hot water” - Liz Smith, New York Post . - “He’s changing the fashion in which we see fashion.” – Today Show.
“Hotel Lachapelle” é o lugar que o fotógrafo escolheu para criar seu universo onírico. A noite nos convida a irmos em um quarto de hotel, um lugar de passagem, a realizarmos nossos desejos, sonhos e fetiches, na luz de néon o surreal nos invade nas cores saturadas e o sonho torna-se realidade para quem as vê!!!!



Chanel on Ice, Oregon, Paris Vogue, 1997


Por: Célia Mello

LAVAZZA

LAVAZZA Café Espresso, o projeto “Espresso&Fun” desde 1993 publica seu famoso calendário com vários mestres da fotografia em preto-e-branco entre eles: Helmut Newton, Ferdinando Scianna, Albert Watson, Marino Parisoto, Elliot Erwitt, mestres da agência Magnum e; no ano de 2002 foi convidado pela Lavazza o fotógrafo David Lachapelle para celebrar seu 10º calendário não usando mais o glamour do preto-e-branco e sim, eclodindo nas cores saturadas e mágicas, foram feitas seis cenas extravagantes das quais Lachapelle dá a sua interpretação a Lavazza.



Por: Célia Mello














Ensaio feito para o calendário LAVAZZA- 2002

Lachapelle: do real ao surreal (e vice versa)


O tema moda, fotografia e Man Ray, me fez lembrar de David Lachapelle, um dos principais fotógrafos da atualidade da moda. Seu trabalho é irreverente e ousado, pois retrata o comportamento e não a moda em si.
No universo fashion o fotógrafo também tem seu destaque e status e Lachapelle fotografa o aparentemente real e surreal (no caso, uma semelhança e diferença com o próprio Man Ray, já que este viveu o próprio movimento surrealista e suas imagens refletem essa época).

Entre os artistas famosos que já passaram por suas lentes estão: Madonna (esta como outros ídolos musicais na década de 80 foi formadora de opinião na identificação da moda jovem), a modelo Naomi Campbell, Cher, Elton John, Leonardo DiCaprio, Uma Thurman, e outros.
Seus trabalhos são publicados nas principais revistas de moda: Harper’s Bazaar, Vogue, Paris Vogue, Vanity Fair. Entre os famosos está a top model Gisele Bündchen no qual publicou um ensaio fotográfico na revista francesa Photo nº 381 de 2001. Este ensaio confere a top model esbanjando uma sensualidade onde aparece em seus sonhos ou em seus fetiches como: carcerária, serpente, bombeira, dentro de um laboratório fotográfico refazendo suas fotos de família (sadomasoquismo) e até como top model.,
Pelas imagens de Lachapelle conferimos o onírico e o contemporâneo na moda, às vezes, de uma forma bizarra, sensual e extravagante.


Por: Célia Mello