Sunday, December 10, 2006

Rogério Reis : CARNAVAL NA LONA

CARNAVAL NA LONA






Entrevista realizada por Josué Junior

(www.josuejunior.com)

Rogério Reis é fotógrafo carioca que trabalhou na área de fotojornalismo em grandes jornais cariocas e hoje está á frente de sua agência, a Tyba, onde produz seus próprios projetos. Contribui com seu trabalho fotográfico como um ativista social; por excelência possui diversas facetas na fotografia, trabalhando nas áreas de publicidade, fotojornalismo, fine arts, projetos especiais... ufa! São tantas as possibilidades que ele abriu na fotografia que fica até difícil enumerar todas elas,mas o que vale é adimirar seu trabalho eclético que a anos vem produzindo e alicerçando com criatividade, qualidade e acima de tudo, com uma visão inovadora da imagem. Segue abaixo a entrevista que ele me concedeu em sua agência, Tyba.

...


Josué : Rogério como foi o seu primeiro contato com a fotografia , e o seu primeiro contato profisional ?
Rogério: Meu contato com a fotografia foi na adolescência, eu estava buscando alguma coisa para fazer e descobri que a fotografia era uma linguagem que me atendia bem. Tinha essa coisa de tentar traduzir com o que você vê, com idéias e sentimentos. Me fascinou logo que tive acesso á técnica da fotografia, mas eu não sou uma pessoa de projetos, de resultados longos e a fotografia tem essa caraterística de dar resultado rápido.Trabalhar com imagem tem uma resposta rápida e foi isso que mais me fascinou, trabalhar com um vocabulário que te dá uma história rápida, tudo resumido numa palavra.
Josué : A partir daí como foi sua experiência ?
Rogério :A minha experiência foi em casa, fotografando dentro de casa, fotografando coisas; o laboratório e depois teve a fase no jornal, eu comecei no jornal do Brasil .
Josué : Você passou por grandes jornais e inclusive fez parte da F4. Como era a fotografia naquela época?
Rogério: Eu acho que até o final dos anos 80 a fotografia que a gente praticava era muito documental, muito ligada a representação da realidade.Até porque a gente vinha de uma época de ditadura ,onde havia uma censura da realidade.
Josué : Tem uma foto sua com o Gabera chegando do exílio. E você estava só emoção...
Rogério : Ah, todos nós estávamos sentindo isso! Acho que quem falou isso foi o Sebastião Salgado que ‘o fotojornalismo é para você surfar na onda da historia’ e para você estar presente no momento histórico com essa carga emotiva na qual você citou e poder participar recontando esse momento com um pouco de talento é comovente! Claro que eu fiz de várias personalidades voltando do exílio.
Josué : Tem uma do Magalhães Pinto sendo tocado em sua careca por um homem do povo! .
Rogério : Ali tem um pouco de humor . Eu acho muito difícil a gente fazer uma fotografia documental e passar humor, é sempre um desafio. Essa do Magalhães Pinto eu tive a contribuição da pessoa que produziu e provocou o sujeito que passou a mão na careca dele.
Josué : Como você vê o momento de hoje?
Rogério : Hoje eu acho que a fotografia tem vários caminhos, ela continua no seu curso documental e hoje se mistura com artes plásticas, como também tem as artes visuais. Eu acho que a fotografia serve para mostrar várias coisas. Ela como forma de expressão deixou de ser sisuda, se você pensar que ela é imagem pode fazer muita coisa com ela . Eu acho que a fotografia está no contexto contemporâneo onde ela assumiu outras dimensões .
Josuè: Você acha que isso é por causa da digital ?
Rogério: A digital provou que a fotografia não é um bicho – papão, a digital todo mundo adotou, do amador ao profissinal liberal !
Josué: Você quer dizer que a digital não tem limite ou tem limite? .
Rogério: Limite que limite?
Josué: Não sei, acho que a pessoa pode usar tanto que chega uma hora que fala em não querer mais isso!
Rogério : A digital rompeu algumas barreiras. Ficou uma coisa ilimitada pois você pode desenvolver o que quiser. A digital popularizou a fotografia, democratizou a fotografia. Como a internet. Já vi profissinais se sentirrem ameaçados por causa da digital, pois todos passam a poder tirar fotos, mas eu acho que não. Principalmente na área do jornalismo, isso dá mais credibilidade ao fotógrafo. Nesse mundo das imagens onde se produz tanta coisa, que as vezes se coloca em dúvida a credibilidade daquela imagem. Será que isso faz sentido? Então você pergunta :quem produziu isso? Vale quem fez ! Aí a resposta , foi fulano que trabalha no jornal tal, já tem um certo tempo na área . Então eu acho que essa democratização na imagem atraves da digital, vai prevalecer o carater profissional da obra, .por exemplo quem fez isso foi o Custódio Coimbra , trabalha no O Globo, é um cara sério. Agora por outro lado quem fez essa imagem foi Antônio Carlos.Alguém conhece ele? Então é questionável, vamos ver se isso aconteceu mesmo!Enfim eu tô falando de fotos que pretendem discutir a realidade, ou um momento político.Quem plantou essa foto existe, foi manipulado ou não. Quem fez então vai dar mais credibilidade ao profissional.
Josué : Com o Filme ‘Cidade de Deus’ você ganhou uma visibilidade diferente, acredito que não só no Brasil como também fora . Como você se vê hoje Rogério Reis ?
Rogério : Não sei, eu tive outra visibilidade como você falou até porque o meu papel é bem pequininiho. Pode ser grande no sentido de produzir cidadania, mas não é fundamental na história. Acho que a história é legal, nos anos 80, traz a tona o Wilson,o Susu, que é o Buscapé que tá vivo até hoje e vive de fotografia. Mas eu acho que se você perguntar ao Wilson , Susu ou Buscapé, que ocupa mais tempo no filme, se perguntar para ele se o filme mudou a vida dele, acho que ele vai dizer que não. Muito menos a minha que simplesmente dei condições de trabalho para ele .Mas foi legal, acho que vi umas três ou quatro vezes , e a partir daí tive mais contato com Paulo Lins. Acho que esse foi o ganho, intensificar a amizade com o Paulo e a ai conheci o Marcelo Yuka. Estas são pessoas que são ativistas sociais, que são pessoas incríveis e isso foi o que valeu para mim.
Josué : O que te falta na fotografia hoje ,ou você acha que já fez de tudo ?
Rogério : Eu não sei quantificar, porque a gente tá sempre buscando. Agora mesmo,estou fazendo um trabalho com Gringo Cardia, ele tá desenvolvendo um trabalho com o AfroReggae que é uma coisa que tá me interessando. Ontem, eu tava fotografando ‘Dançando para não dançar’ que é um projeto de comunidade carente. Enfim, tenho trabalhado muito com esse tema da violência que é muito importante para a gente aqui no Rio de Janeiro. Sou parceiro dessas ações sociais através de minha contribuição que é fotografar , enfim tô sempre inventando história.. Do Afro Reggae fiquei com um grupo que é ‘Descendo a lona’ que fica no Cantagalo que tem um pouco de Circo, um pouco de magia.Eu acho que é uma exposição que deve acontecer em janeiro e eu tô começando a esquentar os tambores e vendo como é que eu vou conceituar essa história , como vou montar, como vou apresentar isso tudo com fotografia. Eu não vejo a profissão de um fotógrafo, de artista como se você tivesse numa pista de dez quilometros, e eu estivese no quilometro sete, faltando três para completar. Eu vejo como uma eterna busca faltando dez, vinte ,trinta...eu não sei medir essa distância .Mas eu vejo que estou num processo de trabalho que espelha um pouco a sociedade, o momento em que estou vivendo.Estou sempre atento a movimentos, tentando refletir alguma coisa.Contribuo tirando fotos.
Josué : Percebo que ainda falta alguma coisa para a fotografia, só não sei precisar o que é , para ela ser aceita Só sei que há uma distância entre o público, o comprador e quem trabalha com arte. Vejo a fotografia ainda discriminada por algumas pessoas, principalmente quem trabalha com arte. O que você acha?
Rogério : A fotografia, recentemente, vem adquirindo status de obra artística ,ela vem ganhando essa imagem. É recente, também lá fora, esse termo fine arts que define o mercado de fotografia que vai para museu, galeria e que é vendido. Ele aconteceu nos Estados Unidos quando os yuppies elegeram a obra do Mapplethorpe como uma obra que teria valor de mercado. A partir daí , surgiram outras maifestações que refletiram no mundo e aqui também. Como aqui o buraco é mais em baixo, a gente procura fortalecer esse ambiente .
Josué : Tem comprador aqui no Rio ou em São Paulo?
Rogerio . São Paulo é um pouco melhor, como tudo hoje enquanto mercado é em São Paulo, mas já foi bem pior. A gente tá em uma boa direção .
Josué : Você acha que é possivel o fotógrafo viver só do seu trabalho?
Rogério : Não sei! Acho difícil viver só do seu trabalho que vai para uma galeria ?
Josué : Como Vick Muniz? Mas há quem diga que ele não é fotógrafo e sim um ilustrador?
Rogério : Ele tá nesse trabalho do Afro Reggae como Fotógrafo. Bem, não importa como ele tá nas coisas, enfim, eu acho um pouco utópico uma pessoa que vive só de botar foto em galeria . Eu me sentiria com uma visão estreita mesmo que tivesse só esse mercado.Eu estou um pouco nesse mercado também, não só aqui como lá fora. Hoje mesmo o pessoal de uma coleção, Hasselblad, que estão montando e querem vender fotos. Entraram em contato comigo e eu tô vendo esse email. Eu ando um pouco nesse mercado ,mas eu não sei se ele me pagasse bem, eu seria feliz trabalhando só para ele, porque tem muita coisa que estrapola essa condição da foto na parede que tem que ser admirada e comprada e vai para a casa de alguém . Eu tô afim de fazer outdoor,uma coisa que dê mais visibilidade, que contribua mais. A coisa do colecionador encerra no colecionador. Essa coisa da pessoa trancar a foto dentro de casa e diz eu tenho Vick Muniz! Eu gosto de prestar serviço, eu tenho o meu lado balção, meu lado comercial , tenho o meu lado autoral se eu tenho condições e qualidade de disciplina para trabalhar no mercado comercial. Por que que eu não vou trabalhar ? Eu tenho essa carcterística não ser especializado em nada e não sei se isso é bom ou ruim.Temos que estar abertos, para várias possibilidades. Gosto muito de mexer com a imagem!
Josué : O que podemos esperar do Rogério para 2006 .
Rogério : Olha o que não falta é projeto, ás vezes ele anda , ás vezes ele pára , projeto é o que não falta .São projetos de livros, projetos de exposição, são várias coisas em andamento.Outro dia eu me dei conta que fiz bastante retrato e tô começando a costurar essa hitória, esses retratos.Tem essa exposição do Afro Reegae e vai por aí. De repente, passa janeiro, fevereiro, passa um outro cavalo e você sai montando nele e é por aí.
Josué : Rogério Obrigado Valeu !!!

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